Quando se pensa em Obesidade, vem logo à mente a imagem do médico, nutricionista ou educador físico como profissionais que saberão discorrer sobre esse assunto (seguindo, principalmente, a máxima da dieta e atividade física para emagrecer). Mas e o psicólogo? O que ele pode dizer sobre a Obesidade?
Em primeiro lugar, é preciso colocar que a Psicologia não se propõe a ser uma terapêutica do emagrecimento.
Ela busca desconstruir a ideia de que as pessoas têm que necessariamente emagrecer para poderem se sentir melhor em relação a elas mesmas e seus corpos.
Ela sustenta a premissa que sentir-se bem com o próprio físico passa por um empoderamento sobre o próprio corpo e a própria história de vida e não está ligado ao número na balança.
A Psicologia, assim, quer desconstruir a ideia da adequação e normatização do corpo a partir de um padrão estabelecido externamente, revogando, dessa forma, a singularidade e o desejo nesse corpo.
Ela, na verdade, ajuda o sujeito a descobrir a sua verdade e empoderar-se sobre ela e seu físico ajudando-o a encontrar o seu caminho singular em sua história de vida. Um corpo que não é da capa da Boa Forma e tem o charme com suas covinhas, com seu tornozelo saliente, no tamanho ampliado de suas mãos.
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia define que o diagnóstico da obesidade em adultos é feito, de forma predominante, a partir do cálculo do IMC (Índice de Massa Corporal) que é o peso dividida pela altura ao quadrado. Se ele é acima de 30, a pessoa é considerada obesa.
A Psicologia aponta, em contrapartida, que não é um número que define o sujeito. Ele não é seu peso e ele que sabe da sua história e do seu desejo.
É possível estabelecer, nesse sentido, que a Psicologia disserta sobre o corpo, o desejo e o empoderamento. Sobre a obesidade, falam o médico, o nutricionista e o educador físico que estão interessados em uma métrica de resultados.
Não há nada de errado nisso; são apenas visões e atuações profissionais completamente distintas e que podem ser complementares, inclusive, dependendo do caso.
É importante deixar claro que a Psicologia não faz uma defesa da obesidade. Ela sustenta que as pessoas não precisam necessariamente emagrecer para poderem se sentir bem em relação a elas mesmas e nem que elas precisam necessariamente estar gordas para isso.
Ela não se propõe a ser uma terapêutica da aceitação e da resignação no sentido “preciso me aceitar nesse corpo que eu odeio” e “devo aceitar as migalhas que a vida me dá”. Não é isso.
Ela propõe a promoção de autonomia e desejo sobre o próprio corpo (que pode até ser emagrecer se fizer sentido para o sujeito).
Neste sentido, a Psicologia sustenta o deslocamento dentro do discurso do sujeito da afirmativa “preciso emagrecer para ser feliz” para “quero cuidar melhor da minha saúde e do meu corpo ao entender melhor a minha relação com a comida”.
Esse deslocamento sustenta a saída do campo da obrigação e da necessidade para o campo do desejo promovendo emancipação psíquica, flexibilidade interna e maior compreensão interna por parte do sujeito.
Ela propõe, desse modo, que o sujeito possa se pensar e se questionar sobre seu corpo; que ele possa se perguntar qual a história por trás da insatisfação sobre seu físico e de sua relação patológica com a alimentação; que ele possa se reconhecer para além do peso.
Quais incômodos foram engolidos ao longo de sua história? Que identificações te aprisionaram? Quanta raiva e culpa ficaram presas “goelas abaixo” Quais planos e desejos ficaram soterrados embaixo do tapete em meio a deveres e obrigações?
Percebo, a partir da minha prática clínica, o que ancora muitas vezes o sujeito no efeito sanfona, na briga intensa com a balança aprisionando-o num estado de baixa autoestima é a lógica “tudo ou nada”. Ou menos 20kg na balança ou nada. Ou sou o funcionário do mês ou nada. Ou obtenho a aprovação e o reconhecimento dos outros do jeito que imagino ou nada. Ou me sinto satisfeito em TODAS as áreas da minha vida ou nada. Isso alimenta muita insegurança e gera no sujeito uma instabilidade emocional bastante intensa (alternando estados de euforia com uma melancolia e desamparo profundos).
Essa ideia encontra correspondência na tese da psicanalista Ana Cecilia Magtaz. Ana Cecilia argumenta que a compulsão alimentar, a anorexia, a bulimia e a obesidade possuem um funcionamento psíquico melancólico que é caracterizado, entre outras coisas, pela lógica “tudo ou nada” e por um intenso sentimento de culpa. Ou seja, todos os sintomas com uma relação patológica com a comida e com o corpo tem como “raiz psíquica” a culpa e a lógica “tudo ou nada”, dizendo de forma resumida.
Mas como lidar com isso? Como sair da lógica “tudo ou nada”, elaborar a culpa e resgatar o prazer e a autoestima na relação com o corpo? Esse é um assunto para um próximo artigo! 🙂
É importante dizer que falo aqui da Psicologia dentro do meu referencial teórico e a partir da minha prática clínica que é a Psicoterapia de orientação psicanalítica.
Se você gostou desse texto, dê um like ou “compartilhar” aí embaixo para que mais pessoas possam se pensar e empoderar sobre seu físico.
Fique à vontade para deixar comentários e dúvidas aí embaixo me contando o que você achou!
Nos vemos no próximo post!
Referência:
MAGTAZ, Ana Cecília. Distúrbios da oralidade na melancolia. 2008. Tese (Doutorado em Psicologia Clínica). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Obesidade: o que é obesidade? Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. In: https://www.endocrino.org.br/obesidade/ (acesso em 05/07/17)
Link permanente