Muitos pacientes chegam no meu consultório queixando-se que não aguentam mais o efeito sanfona e que as oscilações frequentes de peso deixam-nos muito frustrados, desanimados e desesperançosos em relação a uma mudança consistente de peso a longo prazo. A autoestima fica lá embaixo, não aguentam mais perder constantemente roupas e a queixa é mesmo de um grande desalento e decepção.
Como então livrar-se disso?
Aí vem a resposta fácil: é só manter o emagrecimento (com dieta e atividade física a longo prazo e não ganhar peso de novo). Mas como já apontei em outro artigo (ver: O que a Psicologia tem a dizer sobre Obesidade), apresento aqui o ponto de vista de uma psicóloga sobre o assunto e não de educador físico, médico ou nutricionista que estão interessados em uma lógica de resultados.
Interessa-se, como o próprio nome do blog diz, o que está para além do peso.
Mas, nesse caso, o que está, para além do efeito sanfona? Ou melhor dizendo, o que o sustenta do ponto de vista psíquico? Qual a raiz emocional que aprisiona o sujeito nessa briga constante com a balança?
Mas, nesse caso, o que está, para além do efeito sanfona? Ou melhor dizendo, o que o sustenta do ponto de vista psíquico? Qual a raiz emocional que aprisiona o sujeito nessa briga constante com a balança?
Essa resposta também está no artigo que mencionei, mas apresento novamente aqui para vocês: é a lógica do “tudo ou nada”. Explico melhor, ou a pessoa se dedica intensamente a emagrecer e faz disso “a sua razão de vida” ou abandona esse projeto completamente. É como num checklist imaginário que ela precisa “resolver” um item por vez (de forma completa, perfeita e absoluta) para então passar para o próximo.
Vive-se assim de forma simples e dualista: ou o sucesso absoluto ou o fracasso total.
Vive-se assim de forma simples e dualista: ou o sucesso absoluto ou o fracasso total.
Por esse motivo, é tão comum encontrar em quem sofre na relação com o corpo uma identificação com o peso em todas as áreas da vida. Como viver é uma batalha constante consigo mesmo onde ou se triunfa ou se fracassa de forma absoluta, tem-se a sensação de que se carrega um mundo nas costas, como nesse quadrinho da Laerte.
Assim, engole-se o desejo e viver equivale a “sangue, suor e lágrimas” sempre onde o dever, a obrigação e a adequação às expectativas sociais acabam ficando em primeiro plano preterindo, dessa forma, o que faz sentido ao sujeito.
É por conta disso que tem tantas pessoas que estão se ocupando tanto em dar conta das tarefas da vida e deixam de lado o que é do campo do desejo delas. Preenchem-se para não se pensar.
Elas estão então sempre esperando o momento “ideal” para fazer as coisas: a dieta (por isso a tão famosa frase “segunda-feira eu começo”), a mudança na relação conjugal, um novo posicionamento no trabalho, a mudança para um posicionamento mais assertivo nas relações (“fiquei incomodada com isso que ele me falou, mas depois eu lido com isso”). E o “depois” equivale a um momento ideal onde se vai parar tudo na vida para então resolver isso numa premissa “quando eu tiver coragem, eu faço”.
E se falta coragem, é porque há, sim, muito medo. Medo do quê, eu pergunto? Os pacientes me respondem prontamente, quando eu questiono, que é do fracasso, de falhar, de dar errado. E que só quando tiverem tudo controlado, aí lançarão sua sorte.
Mas eu tendo a pensar que o que assusta MESMO (assim, em Caps Lock), mais do que deparar-se com o próprio fracasso, é encarar o vazio e também a própria potência.
Como eu disse antes, um comportamento muito comum de muitas pessoas que atendo é “preencher-se para não se pensar”. Preenche-se de comida, de palavras, de tarefas, de preocupações, de angústias, pois é muito difícil encarar o próprio desejo e o protagonismo da própria história.
Ao invés então de se perguntar, “o que eu tenho que fazer hoje”, por que não se questionar “o que eu quero fazer hoje”? E mais do que lançar aqui o imperativo da vontade (“meu desejo é uma ordem e o mundo deve curvar-se a ele”), quero abrir espaço para reflexão de que lugar você se coloca na sua vida.
Ao invés então de se perguntar, “o que eu tenho que fazer hoje”, por que não se questionar “o que eu quero fazer hoje”? E mais do que lançar aqui o imperativo da vontade (“meu desejo é uma ordem e o mundo deve curvar-se a ele”), quero abrir espaço para reflexão de que lugar você se coloca na sua vida.
Assumir o que faz sentido em sua vida e abrir espaço para o prazer pode ser muito bom, mas também pode trazer muita culpa. E a culpa tende a paralisar muito o sujeito e aprisioná-lo nessa zona de conforto “desconfortável” que ele construiu para si mesmo.
Isso porque encarar a própria potência (advinda por exemplo quando a pessoa finalmente perde os quilos que tanto queria) abre espaço para o vazio. “Agora que resolvi isso, vou fazer o que da vida?”. Por isso, mantém-se o desejo como inatingível e é difícil assumir-se nessa nova condição potente a longo prazo.
Aí fica então a pergunta: por que é tão difícil abrir mão de fato do peso a longo prazo? Quais lutos que o sujeito deve elaborar nessa perda de peso? Essa fica uma questão para um próximo post.
E me diz aí: você também se sente refém do efeito sanfona e briga constantemente com a balança? Me diga SIM ou NÃO nos comentários. Adorarei saber como estão as coisas por aí!
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Nos vemos no próximo post!