O perfeccionismo tem estreita relação com os transtornos alimentares

O perfeccionismo tem estreita relação com os transtornos alimentares. Você já parou para pensar nisso?

Pela minha experiência clínica, muitas vezes, o perfeccionismo está na raiz dos transtornos alimentares (bulimia, anorexia e compulsão alimentar).

É por ter essa relação tão implacável consigo mesma e com o mundo (ou as coisas saem EXATAMENTE como eu penso ou me sinto completamente fracassado e impotente) que a pessoa se sente tão refém da relação com a comida.

É por buscar um ideal de corpo e de sujeito absolutamente perfeitos onde não haja espaço para faltas, vazios, incômodos, insatisfações, carências que a pessoa acaba usando a comida como válvula de escape.

Tenho atendido muitas pessoas absolutamente frustradas com seu corpo e que se sentem aprisionadas na relação com a comida. “Penso em comida o tempo todo”, me contam nos atendimentos.

Mas meu olhar está sempre PARA ALÉM DO PESO e tento escutar o que está para além de suas queixas. Aí me contam de rotinas absolutamente exaustivas de trabalho, de relações amorosas frustrantes, de relações com as figuras parentais onde se sentem engolidos e demandados, de muito sofrimento psíquico no geral.

O curioso é que quando eu aponto o quanto a vida anda angustiante e pesada a elas (e sempre faço a analogia entre o peso físico e os pesos emocionais que carregamos sem perceber) e reconheço, assim, a DOR delas, elas se espantam.

Na verdade, elas estranham, pois no fundo acreditavam que deveriam estar engolindo MAIS coisa, que deveriam estar aguentando melhor a pressão e que certamente a culpa é delas por a vida não estar tão perfeita quanto elas gostariam.

O perfeccionismo, na verdade, é uma carapaça contra a própria vulnerabilidade. É uma defesa para não entrar em contato com as próprias faltas, raivas e incômodos.

Levamos o mundo nas costas, nos martirizamos por isso para não olhar a nossa própria dor.

Abrimos mão das nossas vontades e gostos, nos colocamos nas mãos do outro para ser o melhor marido/funcionário/filho/amigo do mundo e nos ressentimos enormemente se não vem o reconhecimento desejado.

Em que lugar você se coloca na sua vida?

E como diria Fernando Pessoa em “Poema em linha reta”:
“Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?”

Texto originalmente publica na página do Facebook @paraalemdopeso

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